Os tubarões e os carapaus de corridaAlargamento e direitos televisivos. Quanto tempo vai resistir o novo presidente da Liga? | |
29 de Fevereiro de 2012, às 16:23 |
Miguel Ribeiro Fernandes/VIA
Se os campeonatos tivessem agora terminado, segundo a proposta de Mário Figueiredo, presidente da Liga, Feirense e U. Leiria (15.º e 16.º classificados da I Liga) jogariam uma liguinha com Moreirense e Naval (3.º e 4.º da II Liga) para se apurarem as duas equipas que se juntariam às restantes dezasseis, completando-se assim o lote de 18 concorrentes a disputar em 2012-13 a prova mais importante do calendário futebolístico luso.
Esta é a forma que o presidente da Liga achou para tentar atenuar os efeitos do impacto das reclamações dos clubes mais pequenos, alguns dos quais na base da eleição de Mário Figueiredo para o lugar de topo, na ‘Constituição’.
A quem interessa esta ‘fórmula mágica’ de garantir o alargamento quase instantâneo? Aos clubes em risco de descida na I Liga e aos clubes que, numa primeira fase, falhariam o acesso directo ao escalão máximo do futebol português.
Quer dizer: é a Liga que promove dois prémios para os quais 4 clubes não concorreram em (quase) nada para os merecer, a não ser os méritos decorrentes da realização desse mini-torneio quadrangular.
A Liga pretende desvirtuar os princípios em que assentaram, desde o início, os pressupostos de cada uma das competições do quadro profissional. Dezasseis equipas começaram cada uma das provas com o perfeito conhecimento de que, no final, desceriam de divisão os dois últimos classificados e seriam primodivisionários os dois primeiros da Liga de Honra.
Os orçamentos foram definidos segundo aqueles pressupostos, os parceiros e os patrocinadores também -- e alterar as regras a meio não concorre para a afirmação da verdade desportiva.
Qualquer alteração deve ser promovida no final da época, apenas com efeitos para a temporada seguinte. Assim é que está certo, assim é que há respeito pela não subversão das regras. E é nestes momentos que nem a FPF nem o CSD podem ficar ‘a olhar para o palácio’.
Para além das questões éticas e legais, o que se pretende afinal com o alargamento? O que se ganha com ele?
Os clubes/SAD estão com a corda no pescoço. Todos ou quase todos. Os mais ricos e os mais pobres. Num quadro recessivo, e enquanto não houver a consciencialização de que o fair-play financeiro vai acabar com as ilusões e os ilusionistas, a tendência seria no sentido inverso. Diminuir custos para potenciar as receitas. Vai ser inevitável: os ‘grandes’ vão ser obrigados a reduzir nas despesas -- e isso estender-se-á a todos. Mais cuidado e menos desperdício nas aquisições; estruturas menos pesadas e mais baratas; numa palavra, contenção.
O alargamento é pois um capricho eleitoral. Insensato e irresponsável, chegados a um momento em que o confronto entre a ‘economia real’ e a ‘economia paralela’ já fez demasiadas vítimas, com aproveitamento para muitos bancos, escritórios de advogados, etc.
Mário Figueiredo deve ter a consciência de que este é o único mecanismo possível para tentar assegurar a sua sobrevivência como presidente da Liga, mas não acredito que o faça convicto de que, com ele, está a contribuir para a melhoria global do futebol português.
Em contraponto, releve-se a coragem que tem evidenciado no tratamento das questões relativas aos direitos televisivos. Solicitar estudos preliminares para contestar, pela via legal, o actual regime de monopólio, alertando para as saídas que as leis da concorrência proporcionam, é um caminho árduo e difícil. Mas também de enorme coragem, uma vez que os clubes até agora têm sido vencidos pelo ‘deixa andar’ e pelo ‘conforto’ que a Olivedesportos lhes tem proporcionado. Monopólio é monopólio. Manda quem pode -- e o problema é que as dependências multiplicam-se, com graves consequências para o equilíbrio das competições.
Por isso, Mário Figueiredo está errado quando ‘força’ o alargamento; está certíssimo quando alerta para os benefícios resultados da possibilidade de haver mais operadores a licitar os direitos televisivos. Não nos podemos esquecer que há hábitos, no futebol português, com ‘teias de aranha’ e há quem se sinta muito confortável (sentado) em cima desses hábitos...
Esta é uma história entre tubarões e carapaus de corrida -- e não vai ser nada fácil fugir às mandíbulas... sem perder o pé.
O cenário mais verosímil -- considerando o País que somos -- é que haja alargamento e a mesma lógica de direitos televisivos. Conclusão: o futebol português não vai para melhor...
(Rui Santos escreve de acordo com a grafia do português pré-acordo ortográfico)